quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

MICOSES SUPERFICIAIS E DERMATOFITOSES


 Micoses superficiais e Dermatofitoses.

Tabela 1 - Micoses superficiais e Dermatofitoses.
Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição

 Micoses superficiais

Os fungos são os causadores das micoses superficiais. Eles colonizam as camadas queratinizadas da pele, dos pelos e das unhas. As infecções causadas por estes organismos induzem pouca ou nenhuma resposta imune do hospedeiro, não são destrutivas e, em consequência, são assintomáticas. São, em geral, somente de interesse estético e fáceis de diagnosticar e tratar.


Pitiríase (Tinea) Versicolor

Comum em todo o mundo, a pitiríase versicolor é uma infecção fúngica superficial. Em certos ambientes tropicais, ela pode afetar até 60% da população. É causada pela levedura lipofílica Malassezia furfur.


Morfologia

M. furfur possui paredes espessas, esféricas ou ovais, com 3 a 8 μm de diâmetro (Figura 1). 

Figura 1: Malassezia furfur em escamas de pele coradas.

Fonte: Microbiologia Médica, 7ª Ed.


As células podem estar misturadas com hifas curtas, ocasionalmente ramificadas, que tendem a se orientar de uma extremidade a outra. Elas apresentam uma espécie de “lábio” ou colarete ao redor do ponto de iniciação do broto na célula‑mãe (Figura 2).


Figura 2: Malassezia furfur em varredura eletrônica evidenciando o colarete.

Fonte: Microbiologia Médica, 7ª Ed.


Para cultivar o fungo é necessário um meio rico em ácidos graxos, e este não pode ser armazenado por muito tempo. Geralmente é utilizado bile de boi ou azeite de oliva na cultura (Figura 3).

Figura 3: Cultura de Malassezia furfur em ácidos graxos.

Fonte: http://crescendoemcultura.blogspot.com/2013/11/pitiriase-versicolor.html


Epidemiologia

A pitiríase versicolor ocorre em pessoas saudáveis no mundo todo, todavia é mais prevalente em regiões tropicais e subtropicais. Adultos jovens são mais comumente afetados. Malassezia furfur não é encontrada como um saprófito na natureza e a pitiríase versicolor não foi registrada em animais. A infecção humana é resultante da transferência direta ou indireta de material queratínico de uma pessoa a outra.


Síndromes Clínicas

A pitiríase versicolor causa lesões sob a forma de pequenas máculas hipo ou hiperpigmentadas. Pode afetar qualquer parte do corpo, mas a parte superior do tronco, braços, tórax, ombros, face e pescoço são mais frequentemente envolvidas (Figura 4). As lesões são irregulares, com manchas despigmentadas bem delimitadas, que podem confluir e ser cobertas por uma escama fina. A M. furfur interfere na produção de melanina, logo as lesões são hipopigmentadas em pessoas de pele escura. Em pessoas de pele clara, as lesões são rosadas a castanho‑claras e se tornam mais evidentes por não adquirirem bronzeamento após exposição ao sol. Essas lesões são assintomáticas, com exceção de prurido brando em casos graves. A infecção dos folículos pilosos, resultando em foliculite, perifoliculite e abscessos dérmicos é uma complicação rara desta doença.

Figura 4: Manchas hiperpigmentadas múltiplas, castanho­claras, no tórax e ombros.

Fonte: Microbiologia Médica, 7ª Ed.


Diagnóstico Laboratorial 

O diagnóstico laboratorial da pitiríase versicolor é feito pela visualização direta dos elementos fúngicos (hifas curtas e curvas e blastoconídios em cachos) no exame microscópico das escamas epidérmicas em KOH a 10% com ou sem branco de calcoflúor/fenol-azul de metileno-glicerol, para a observação em microscópio das células leveduriformes ovais (em “cacho de uvas”), além de hifas curtas, angulares, largas e ramificadas. Os organismos são usualmente numerosos e podem ser visualizados por coloração com H&E ou PAS. As lesões também fluorescem com uma cor amarelada em exposição à lâmpada de Wood. Além disso, a cultura é o padrão ouro para identificar gênero e espécie (por provas bioquímicas e métodos moleculares), porém, demanda mais tempo, embora não necessária normalmente para o estabelecimento do diagnóstico, pode ser realizada utilizando meio micológico sintético suplementado com óleo de oliva como fonte de lipídeo. O crescimento de colônias leveduriformes aparece após incubação a 30 °C por 5 a 7 dias. Microscopicamente, as colônias são compostas de células leveduriformes com brotamento e hifas ocasionais.


Figura 5: exame microscópico das escamas epidérmicas em KOH  positivo para pitiríase versicolo

Fonte: https://aia1317.fandom.com/pt-br/wiki/Micoses_superficiais


Tratamento  

Embora a cura espontânea tenha sido reportada, a doença é geralmente crônica e persistente. O tratamento consiste no uso tópico de azóis ou xampu com sulfeto de selênio. Para infecção mais generalizada, o cetoconazol ou itraconazol por via oral podem ser utilizados. No entanto, a descoloração da pele pode durar de semanas a meses.


Epidemiologia

A tinea nigra é uma micose superficial rara, de ocorrência mundial, sendo mais prevalente nas áreas tropicais e subtropicais. A doença tem maior incidência em pessoas do sexo feminino. É contraída provavelmente por inoculação traumática do fungo nas camadas superficiais da epiderme. É mais prevalente na África, Ásia e Américas Central e do Sul. As crianças e adultos jovens são mais frequentemente afetados.


Morfologia

Microscopicamente, H. werneckii aparece como uma hifa dematiácea, septada, frequentemente ramificada, com 1,5 a 3,0 μm de largura. Artroconídios e células alongadas com brotamento também estão presentes. H. werneckii também cresce em cultura em meio micológico padrão a 25 °C, na qual um fungo filamentosonegro é que produz aneloconídios (conídios que possuem anelídeos ou anéis), que muitas vezes deslizam para os lados do conidióforo. na figura a seguir podemos observar Exames micológicos para tinea nigra: (A) Exame micológico direto de amostra coletada por raspagem de lesão cutânea, clarificada com KOH 10%, ilustrando hifas septadas dematiáceos. (B) Meio de cultura Mycosel (Difco, EUA) com colônia demácea de aparência cerosa. (C) Microcrescimento revelando leveduras demácias com fissão binária, típico de Hortaea werneckii. 

 Figura 6: Exames micológicos para tinea nigra

Fonte: Anais Brasileiros de Dermatologia  2017


Mecanismos de patogenicidade 


Síndromes Clínicas

A tinea nigra aparece como uma mácula isolada, irregular, pigmentada (castanha a negra), geralmente na palma das mãos ou planta dos pés. Não há descamação ou invasão dos folículos pilosos, e a infecção não é contagiosa. Devido à sua localização superficial, há pouco ou nenhum desconforto, ou reação do hospedeiro. Como a lesão pode parecer grosseiramente um melanoma maligno, a biópsia ou excisão local podem ser consideradas. Tais procedimentos invasivos podem ser evitados por um simples exame microscópico das escamas de pele da área afetada.  


Diagnóstico Laboratorial

A tinea nigra é facilmente diagnosticada por exame microscópico das escamas de pele em KOH a 10% ou 20%. As hifas pigmentadas e formas de levedura são confinadas às camadas externas do extrato córneo e são facilmente detectadas em cortes corados por H&E. Uma vez detectados os elementos fúngicos, as escamações de pele devem ser semeadas em meio micológico com antibióticos. Uma colônia leveduriforme dematiácea deve aparecer dentro de 3 semanas, tornando‑se aveludada com o tempo. O exame microscópico revela células leveduriformes cilíndricas e bicelulares e, dependendo da idade da colônia, hifas toruloides. 


Figura 7:  exame direto de raspagem de escamas epidérmicas 


Fonte: https://aia1317.fandom.com/pt-br/wiki/Micoses_superficiais


Tratamento

A infecção responde bem à terapia tópica, incluindo pomada de Whitfield, cremes com azóis e terbinafina.  


Dermatofitoses

As dermatofitose são um complexo de doenças causadas por várias espécies de fungos filamentosos, relacionados aos gêneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Estes fungos são conhecidos coletivamente como dermatófitos e têm habilidade em causar doenças em humanos e/ou animais. Todos têm em comum a habilidade de invadir a pele, pelos ou unhas. Estes fungos são queratinofílicos e queratinolíticos, sendo capazes de destruir as superfícies queratinosas dessas estruturas. Nas infecções de pele, os dermatófitos invadem somente a camada superior e mais externa da epiderme, o estrato córneo.

Figura 8 - Camadas da pele.

Fonte: AFH – Anatomia e Fisiologia Humana

As várias formas de dermatofitoses são citadas como “tineas”. Clinicamente as tineas são classificadas de acordo com o local anatômico ou a estrutura afetada: (1) tinea capitis, do couro cabeludo, sobrancelhas e cílios; (2) tinea barbae; (3) tinea corporis da pele glabra ou macia; (4) tinea cruris, da região inguinal ; (5) tinea pedis, do pé; (6) tinea unguium, da unha (também conhecida como onicomicose). Os sinais e sintomas clínicos das dermatofitoses variam de acordo com os agentes etiológicos, a reação do hospedeiro e o local da infecção.

Morfologia

Os dermatófitos apresentam aspectos semelhantes em relação às características taxonômicas, morfológicas, fisiológicas e de antigenicidade. Todos eles são fungos filamentosos que possuem a capacidade de colonizar tecidos queratinizados. São fungos de estrutura filamentosa, hialina e septada, que reproduzem-se assexuadamente. Cada gênero de fungo filamentoso dermatofítico é caracterizado por um padrão específico de crescimento em cultura e pela produção de macroconídios e microconídios. Características adicionais para a identificação de cada espécie requerem considerações sobre a morfologia da colônia, produção de esporos e requerimentos nutricionais in vitro, aspectos que  serão abordados posteriormente. 

Microscopicamente, o gênero Microsporum é identificado pela observação de seus macroconídios, enquanto os microconídios são estruturas características do gênero Trichophyton. Epidermophyton floccosum não produz microconídios, porém seus macroconídios de parede lisa que nascem em cachos de dois ou três são bastante característicos. Microsporum canis produz macroconídios característicos, grandes, multicelulares (cinco a oito células por conídio), com parede espessa e rugosa. Trichophyton rubrum produz microconídios em forma de gotas ou de pino que nascem ao longo das hifas, enquanto Trichophyton mentagrophytes produz tanto macroconídios únicos em forma de charuto, como cachos de microconídios esféricos. T. tonsurans produz microconídios de forma e tamanho variados, com conídios esféricos relativamente grandes, muitas vezes localizados paralelamente ao lado de conídios pequenos e outros microconídios de vários tamanhos e formas.

Figura 9: Epidermophyton floccosum. Em lactofenol azul­algodão mostrando macroconídiosde paredes lisas.

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição

Figura 10: Microsporum canis. Em lactofenol azul­algodão mostrando macroconídios (setapreta) e microconídios (seta vermelha) de parede rugosa.

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição

Figura 11: Trichophyton rubrum. Em lactofenol azul­algodão mostrando macroconídio multicelular (seta preta) e microconídios em forma de gota e pino (seta vermelha).  

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição

Figura 12: Trichophyton mentagrophytes. Em lactofenol azul­algodão mostrando macroconídios em forma de charuto (seta preta) e microconídios agrupados em cachos (seta vermelha).  

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição

Figura 13: Trichophyton tonsurans. Em lactofenol azul­algodão mostrando microconídios (seta preta).  

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição

Mecanismo de patogenicidade 

1) Adesão

A estrutura física e química da pele, a constante exposição à luz ultravioleta, a temperatura, a falta de umidade e a presença da microbiota normal tornam o ambiente inóspito para o crescimento de micro-organismos patogênicos. Durante o processo infeccioso, os dermatófitos devem superar essas barreiras. Um dos principais mecanismo para a colonização tecidual é a adesão do agente, para se instalar na epiderme, o patógeno deve aderir à superfície do tecido, o artroconídio deve germinar e a hifa deve então penetrar rapidamente no estrato córneo, evitando que o fungo seja eliminado com a descamação do epitélio. Na patogênese das dermatofitoses, a interação inicial entre os artroconídios e o estrato córneo ocorre após 3 a 4 horas de contato.

2) Enzimas 

Após a adesão, os dermatófitos devem obter nutrientes para seu desenvolvimento e sobrevivência, utilizando as macromoléculas presentes no tecido hospedeiro como fonte de carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre. Entretanto, a seletividade da membrana citoplasmática impede que proteínas, amido, celulose e lipídeos sejam transportados para o interior da célula. Para que essas moléculas sejam utilizadas, é necessário degradá-las em compostos menores, para os quais as membranas são permeáveis. A quebra dessas moléculas é promovida por enzimas hidrolíticas secretadas que apresentam especificidade por diferentes substratos. Por essa razão, a secreção de uma ampla variedade de enzimas pelos dermatófitos, como proteases, lipases, elastases, colagenases, fosfatases e esterases, é um fator dos mais importantes durante o processo infeccioso. Essa maquinaria enzimática é um dos fatores de virulência mais bem caracterizados dos dermatófitos, permitindo a hidrólise de componentes estruturais do tecido epidérmico e possibilitando que esses patógenos se tornem invasivos.

Dentre essa ampla variedade de enzimas secretadas pelos dermatófitos, as enzimas proteolíticas são as mais estudadas, e a importância das proteases queratinolíticas. As queratinases secretadas pelos dermatófitos catalisam a degradação de queratina presente no tecido hospedeiro em oligopeptídeos e aminoácidos, que podem então ser assimilados pelo fungo. 

Figura 14: Modelo proposto para a regulação pelo pH ambiente das enzimas proteolíticas secretadas pelos dermatófitos.

FONTE ADAPTADA: Martinez-Rossi, et al

Síndromes Clínicas

As dermatofitoses manifestam uma ampla variedade de apresentações clínicas, que podem ser afetadas por fatores, como as espécies de dermatófitos, a quantidade do inóculo, o local da infecção e a condição imune do hospedeiro. O padrão clássico das dermatofitoses é o padrão ringworm, ou seja, um anel de escamação inflamatória com diminuição da inflamação em direção ao centro da lesão. As tineas de áreas cobertas por pelos se apresentam, muitas vezes, como manchas circulares elevadas de alopecia com eritema e escamação (Figura 8) ou mais difusamente espalhados como pápulas, pústulas, vesículas e quérions, que consistem em inflamação grave envolvendo a haste do pelo (Figura 9).

Figura 15 - Tinea capitis causada por Microsporum canis.

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição


Figura 16 - Tinea barbae causada por Trichophyton verrucosum.

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição

Ademais as infecções da pele lisa normalmente se apresentam como manchas eritematosas e escamosas que se expandem em um padrão centrípeto com clareamento central, enquanto as dermatofitoses do pé e da mão podem se tornar, muitas vezes, complicadas por onicomicoses, em que a placa ungueal é invadida e destruída por fungos. A onicomicose é uma infecção fúngica que acomete as unhas, principalmente, dos pés, uma vez que o ambiente úmido, escuro e aquecido, encontrado dentro dos sapatos e tênis, favorece o seu crescimento. Além disso, a queratina, substância que forma as unhas, é o “alimento” dos fungos. Apresenta-se de várias formas: descolamento da borda livre da unha, espessamento, manchas brancas na superfície ou deformação da unha (Figura 10). Quando a micose atinge a pele ao redor da unha, causa a paroníquia (“unheiro”). O contorno ungueal fica inflamado, dolorido, inchado e avermelhado e por consequência altera a formação da unha, que cresce ondulada. O agente etiológico mais comum dessa infecção nos países desenvolvidos é o T. rubrum. Outrossim, uma outra manifestação clínica causada por dermatofitose é a Tinea interdigital (Figura 11), conhecido popularmente como pé de atleta. Causa descamação, maceração (pele esbranquiçada e mole), fissuras e coceira entre os dedos dos pés. Bastante frequente nos pés, devido ao uso constante de calçados fechados que retém a umidade, também pode ocorrer nas mãos, principalmente naquelas pessoas que trabalham muito com água e sabão.

Figura 17 -  Onicomicose causada por Trichophyton rubrum.

Fonte: Livro Microbiologia Médica Murray 7ª edição


Figura 18 - Tinea Interdigital (frieira).

Fonte: Manual MSD


Tratamento

As infecções dermatofíticas localizadas e que não afetam pelos ou unhas em geral podem ser tratadas efetivamente com agentes tópicos, todas as outras requerem terapia oral. Os agentes tópicos incluem azóis (miconazol, clotrimazol, econazol, tioconazol e itraconazol), terbinafina e haloprogina. Outrossim, a pomada de Whitfield (ácidos salicílico e benzoico) é um agente opcional para as dermatofitoses, mas as respostas são geralmente mais lentas que as observadas com os agentes com atividade antifúngica específica. Além disso, os agentes antifúngicos orais com atividade sistêmica contra dermatófitos incluem griseofulvina, itraconazol, fluconazol e terbinafina. Os azóis e a terbinafina são mais rápida e amplamente eficazes que a griseofulvina, especialmente no tratamento das onicomicoses.


Ecologia

  • Os dermatófitos podem ser classificados em 3 categorias, baseadas em seu habitat natural.
  • Geofílicos vivem no solo e são patógenos ocasionais de animais e humanos;
  • Zoofílicos normalmente parasitam o pelo e a pele de animais, mas podem ser transmitidos aos humanos;
  • tendem a provocar uma intensa reação no hospedeiro, causando lesões altamente inflamatórias e respondendo bem à terapia.
  • Antropofílicos geralmente infectam os humanos e podem ser transmitidos direta ou indiretamente de pessoa a pessoa.
  • tendem a causar infecções relativamente não inflamatórias, crônicas, que são difíceis de curar


Epidemiologia


As infecções causadas por dermatófitos são geralmente endêmicas, porém podem assumir proporções epidêmicas. Os estudos epidemiológicos das micoses superficiais com identificação dos agentes etiológicos auxiliam para o conhecimento da prevalência regional, corroborando em melhor manejo clínico com diminuições da terapêutica baseada apenas na suspeição clínica, insucesso terapêutico e resistência medicamentosa.

Segundo dados publicados pela RBAC (Revista Brasileira de Análises Clínicas), a distribuição da faixa etária e a frequência das micoses superficiais estão distribuídos conforme apresentados nos gráficos abaixo.


Fonte: Revista Brasileira de Análises Clínicas


Diagnóstico Laboratorial

O diagnóstico laboratorial das dermatofitoses se baseia na demonstração das hifas septadas pela microscopia direta de amostras de pele, pelos e unhas e no isolamento dos microrganismos em cultura.


As amostras são coletadas e montadas sobre uma lâmina de vidro com uma gota de KOH a 10% ou 20% e examinadas microscopicamente.

Figura 19 - coleta sob luz de wood

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492

Figura 20 - Coleta de pelos

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492


Figura 21 - Exame direto de pelos

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492

Figura 22 - Exame direto de pele e unha

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492

As culturas são sempre úteis e podem ser obtidas por raspagem das áreas afetadas e semeadura da pele, pelos ou pedaços de unha em meio micológico padrão, como o ágar Sabouraud, com e sem antibióticos, ou DTM (dermatophyte test medium). 


No exame de amostras para elementos fúngicos, o branco de calcoflúor tem sido utilizado com resultados excelentes. As colônias se desenvolvem entre 7 e 28 dias. Suas aparências macro e microscópicas e requerimentos nutricionais podem ser utilizados na identificação.

Figura 23 - Identificação morfológica

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492

Identificação Morfológica


Em escala mundial, T. rubrum e T. mentagrophytes são responsáveis por 80% a 90% de todas as dermatofitoses.

Figura 24 - Macroconídios fusiformes

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492

Figura 25 - Macroconídios cilíndricos

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492

Figura 26 - Macroconídios piriformes

fonte:https://www.slideshare.net/upload718/micoses-superficiais-14275492


REFERÊNCIA


FRAMIL, Valéria Maria de Souza et al. Pitiríase versicolor: isolamento e identificação das principais espécies de Malassezia. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 85, n. 1, p. 111-114, 2010.

MURRAY, P.; ROSENTHAL, K. S.; PFFALER, M. A. Microbiologia Médica, 7a edição. 2010.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Treponema pallidum

 1) Morfologia e Estrutura 


Fonte: Syphilis - causes, symptoms, diagnosis, treatment, pathology


T. pallidum é uma espiroqueta fina e espiralada (0,1 a 0,2 × 6 a 20 μm) e possui extremidades afiladas, tendo três flagelos periplasmáticos inseridos em cada uma de suas extremidades. T. pallidum não cresce em culturas sem células, e essa dificuldade em cultivar in vitro decorre da falta do ciclo do ácido tricarboxílico e da dependência das células hospedeiras para obtenção de todas as purinas, pirimidinas e a maioria dos aminoácidos. Além disso, são microaerófilos ou anaeróbios. 

A doença humana é causada por duas espécies de bactérias, a Treponema pallidum (com três subespécies) e Treponema carateum, sendo ambas morfologicamente idênticas, produzindo a mesma resposta sorológica e suscetíveis à penicilina, as quais se diferenciam por suas características epidemiológicas e apresentação clínica.


Fonte: Treponema-pallidum-bacteria-science-artwork


2) Mecanismos de patogenicidade


A detecção de fatores de virulência específicos é dificultada pela incapacidade de obter quantidades significativas de T. pallidum in vitro. Por conta disso, o conhecimento sobre os mecanismos de patogenicidade dessa bactéria são fundamentados em conclusões de análises genômicas e de propriedades estruturais. 

Em sua estrutura, T. pallidum apresenta lipoproteínas, que não são expostas na superfície externa. Isso permite que a bactéria escape do sistema imunológico, devido a ausência de antígenos espécie-específicos em sua superfície. 

Pelo menos 5 hemolisinas foram identificadas na análise genômica, mas a atuação dessas hemolisinas no dano tecidual não é comprovada. Além disso, foi suposto que a produção de hialuronidase facilitaria a infiltração de T. pallidum no espaço perivascular, mas ainda não foi demonstrado. 

Em geral, acredita-se que a destruição tecidual e as lesões observadas na sífilis são causadas pela resposta imune do paciente à infecção.


3) Cultura e/ou Diagnóstico laboratorial


Uma das formas de diagnóstico é a microscopia deve ser usada microscopia de campo escuro ou coloração com corantes fluorescentes.  O diagnóstico da sífilis primária, secundária ou congênita pode ser feito rapidamente pelo exame do exsudato das lesões cutâneas em microscopia de campo escuro; entretanto, o teste é confiável apenas quando um microscopista experiente examina imediatamente o material clínico que tenha espiroquetas móveis. Em razão das limitações da microscopia de campo escuro, uma alternativa útil para a detecção de T. pallidum é o teste de imunofluorescência direta. Anticorpos monoclonais antitreponema ligados a moléculas fluorescentes são utilizados para corar a bactéria. 


Fonte: Murray, Patrick R. Microbiologia Médica. 7° Edição


Não deve ser realizada cultura in vitro de T. pallidum porque o organismo não cresce em meios de cultura artificiais. A metodologia de amplificação de ácidos nucleicos (reação em cadeia da polimerase [PCR]) foi desenvolvida para detecção de T. pallidum em lesões genitais, sangue de crianças e líquido cefalorraquidiano (LCR), mas só está disponível em laboratórios de pesquisa ou de referência. Na maioria dos pacientes, a sífilis é diagnosticada por meio de testes sorológicos. São utilizados dois tipos de testes: testes não específicos (não treponêmicos) e testes específicos (treponêmicos). Os testes não treponêmicos são utilizados para rastreamento, porque são de rápida execução e baixo custo. A reação positiva com qualquer um desses testes é confirmada por teste treponêmico. Testes não treponêmicos medem as imunoglobulinas G (IgG) e IgM (também denominados anticorpos reagênicos) que se desenvolvem contra os lipídeos liberados pelas células danificadas durante o estágio inicial da doença e que aparecem na superfície celular do treponema.Os dois testes mais comumente utilizados são o do Venereal Disease Research Laboratory (VDRL) e o teste rápido de reagina plasmática (RPR). Os testes treponêmicos utilizam T. pallidum como antígeno para detectar anticorpos anti‑T. pallidum. O teste específico mais comum foi o teste de absorção de anticorpo treponêmico fluorescente (FTA‑ABS). Este é um teste de imunofluorescência indireta, em que o antígeno é o T. pallidum fixado em lâmina. A lâmina é coberta com soro do paciente previamente misturado com extrato de treponemas não patogênicos. Já que esses testes são de difícil interpretação, muitos laboratórios utilizam o teste de aglutinação de partículas para Treponema pallidum (TP‑ PA) ou um teste de imunoensaio de enzima (EIA) com enzimas específicas. O TP‑PA é um teste de aglutinação em microplaca. Partículas de gelatina sensibilizadas com antígenos de T. pallidum são misturadas com diluições do soro do paciente. Na presença de anticorpos, as partículas aglutinam.




4) Patologia e Tratamento


Sífilis Primária

No estágio primário da doença, o sinal inicial é um cancro pequeno, de base endurecida, que aparece no local da infecção de 10 a 90 dias após a exposição. O cancro é indolor e um exsudato seroso, altamente infeccioso, aparece no centro. Grande número de espiroquetas está presente nesse fluido e pode ser disseminado através do sistema linfático e da corrente sanguínea. A úlcera cicatriza espontaneamente em até 2 meses, dando ao paciente falsa sensação de cura. Nenhum desses sintomas causa qualquer desconforto. Muitas mulheres têm total desconhecimento do cancro, que, muitas vezes, localiza-se no colo do útero. Nos homens, o cancro pode-se formar na uretra e não é visível. 

Fonte: TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. MICROBIOLOGIA, 12ª Ed. Artmed, 2017.


Sífilis Secundária

Nesse estágio, os pacientes tipicamente experimentam sintomas semelhantes aos de uma síndrome gripal, como dor de garganta, dor de cabeça, febre, mialgia, linfadenopatia e exantema mucocutâneo generalizado. O exantema pode variar (macular, papular, pustuloso), cobrir toda a superfície cutânea. Ele desaparece lentamente em poucas semanas a meses e o paciente entra na fase latente ou clinicamente inativa da doença. Além disso, lesões, denominadas condiloma plano (condylomata lata), podem ocorrer em dobras úmidas da pele e as erosões podem se desenvolver na boca ou outras mucosas. Nesse estágio, as lesões da erupção contêm muitas espiroquetas e são muito infecciosas. 


Fonte: TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. MICROBIOLOGIA, 12ª Ed. Artmed, 2017.

   Fonte: Murray, Patrick R. Microbiologia Médica. 7° Edição.




 FonteSerbian Journal of Dermatology and Venereology. 

 Condyloma Latum.


Sífilis Terciária (Tardia)

Uma vez que os sintomas da sífilis primária e secundária não são incapacitantes, os indivíduos podem entrar no período latente sem terem recebido cuidados médicos. Assim, em até 25% dos casos não tratados, a doença reaparece em seu estágio terciário, o qual ocorre somente após um intervalo de muitos anos depois do período latente. As classificações desse estágio variam de acordo com os tipos de lesão ou tecidos afetados: 1) A sífilis gomatosa é caracterizada por gomas (formas de inflamação progressiva) que aparecem, após cerca de 15 anos, como massas de tecido de aspecto emborrachado em diversos órgãos. 2) A sífilis cardiovascular resulta em um enfraquecimento da aorta. 3) A neurossífilis é caracterizada pelo acometimento do sistema nervoso central, resultando em alterações de personalidade, sinais de demência, convulsões, perda da coordenação do movimento voluntário, paralisia parcial, perda da capacidade de utilização e compreensão da fala, perda da visão ou audição, ou perda do controle da bexiga e do intestino. Poucos patógenos são encontrados nas lesões do estágio terciário e eles não são considerados muito infecciosos. Hoje, com o advento da antibioticoterapia, raramente casos de sífilis progridem até esse estágio.

Fonte: TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. MICROBIOLOGIA, 12ª Ed. Artmed, 2017.


Sífilis Congênita

Infecções intrauterinas podem provocar doença fetal grave, devido a transmissão através da placenta para o feto. Prejuízo no desenvolvimento mental e outros sintomas neurológicos estão entre as consequências mais graves. A gestação durante os estágios primário e secundário geralmente produz um natimorto. No entanto, em crianças não tratadas que sobrevivem à essa fase inicial da doença, malformação de dentes e ossos, cegueira, surdez e sífilis cardiovascular são comuns. O tratamento da mãe com antibióticos durante os dois primeiros trimestres de gravidez geralmente é capaz de prevenir a transmissão congênita.

Outros Treponemas

T. pallidum subspécie endemicum: responsável pela sífilis endêmica, doença na qual lesões orais iniciais raramente são observadas, lesões secundárias incluem pápula e placas de mucosa e manifestações tardias apresentam-se como gomas da pele, ossos e nasofaringe. É essecialmente uma doença infantil e ocorre em desertos e regiões temperadas do norte da África e do Oriente Médio.

T. pertenue: é o agente etiológico da bouba, uma doença granulomatosa em que os pacientes apresentam lesões cutâneas inicialmente, posteriormente, lesões destrutivas da pele, linfonodos e ossos. Ocorre em áreas tropicais e nos desertos da América do Sul, África Central e Indonésia.

   Fonte: Murray, Patrick R. Microbiologia Médica. 7° Edição.


T. carateum: é o agente etiológico da pinta, doença na qual pequenas pápulas pruriginosas se desenvolvem na superfície cutânea após período de incubação de 1 a 3 semanas, aumentam e persistem por meses a anos. Além disso, lesões hipopigmentadas, disseminadas e recorrentes podem se desenvolver ao longo de anos, resultando em cicatrizes e desfiguração. Ocorre em zonas tropicais das Américas Central e do Sul.

Tratamento da sífilis

A penicilina benzatina de ação prolongada é utilizada nas fases iniciais da sífilis e a penicilina G é recomendada para sífilis congênita e tardia. Além disso, doxiciclina ou azitromicina podem ser utilizadas como alternativa para pacientes alérgicos à penicilina. Mulheres grávidas não devem ser tratadas com tetraciclinas.

5)  Prevenção e Educação em Saúde


Para o público:

Vídeo - Drauzio Varella: https://www.youtube.com/watch?v=S3GSsSFw1Qs



Fonte: site da internet - Governo do Estado do Ceará


Fonte: site da internet - Governo do Estado do Ceará


Para os profissionais da saúde: 


Fonte: site da internet - Governo do Estado de Tubarão


     6) Caso clínico 


      C.R.B, 24 anos, sexo masculino, solteiro, deu entrada em uma Unidade de Pronto Atentimento por estar apresentando perto da glande do pênis uma úlcera indolor com bordas elevadas. Ele relata que a lesão surgiu por volta de 15 dias e que inicialmente tinha uma característica de pápula. Ao ser perguntado sobre sua vida sexual o paciente revela ter relações frequentemente e que raramente recorre ao uso de preservativos. Pelas características e pelo local da lesão a equipe médica teve como principal hipótese diagnóstica Sífilis primária, sendo confirmada com o Exame de Campo Escuro positivo.


Fonte: (MARQUES, 2017)


      7) Questões de Estudo


  1. Quais são as características morfológicas da bactéria Treponema pallidum?


  1. Quais as causas da dificuldade de cultivar T. pallidum in vitro?


  1. Cite as fases do curso clínico da sífilis e qual o principal evento que está ocorrendo em cada uma delas.


REFERÊNCIAS


Bjekić, M., & Ivanovski, K. (2016). Condyloma Latum on the Lower Lip as an Isolated Manifestation of Secondary Syphilis – a Case Report. Serbian Journal of Dermatology and Venereology, 8, 45 - 50.

TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. MICROBIOLOGIA, 12ª Ed. Artmed, 2017.

Murray, Patrick R. Microbiologia Médica. 7° Edição.