quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Pseudomonas aeruginosa

 1) Morfologia e Estrutura 

Pseudomonas aeruginosa são bacilos gram-negativos pequenos (0,5 a 1,0 por 1,5 a 5,0 μ m), arranjados aos pares. São móveis, retos ou ligeiramente curvados. São aeróbios obrigatórios, mas podem crescer anaerobicamente usando nitrato ou arginina como alternativa de receptor de elétrons. Possuem a citocromo-oxidase, que permite sua diferenciação de Enterobacteriaceae e de Stenotrophomonas  em um teste rápido de 5 minutos. 


Possuem muco polissacarídeo capsular, que em algumas cepas está presente em grandes quantidades, dando aparência mucóide a essas cepas, que são comuns em pacientes com fibrose cística. Algumas espécies produzem pigmentos difusíveis (p. ex., piocianina [azul], pioverdina [verde‑ amarelado], piorrubina [vermelho‑amarronzado]), que lhes dão aparência característica em cultura e simplificam a identificação preliminar.  



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2) Mecanismos de patogenicidade 


P. aeruginosa tem muitos fatores de virulência, incluindo adesinas, toxinas e enzimas. Além disso, o sistema de secreção utilizado por Pseudomonas, o sistema do tipo III, é particularmente eficaz em injetar toxinas na célula hospedeira. Adesinas ajudam na adesão na célula do hospedeiro e pelo menos quatro componentes de superfície de P. aeruginosa facilitam essa adesão: (1) flagelos, (2) pili, (3) lipopolissacarídeo (LPS) e (4) alginato.  Flagelos e pili também medeiam a motilidade em P. aeruginosa, e o lipídio A componente do LPS é responsável pela atividade de endotoxina. O alginato é um exopolissacarídeo mucóide que forma uma cápsula proeminente na superfície bacteriana e protege o organismo da fagocitose e da ação dos antibióticos. Toxinas Secretadas e Enzimas:  Exotoxina A (ETA) uma das principais para o fator de virulência, ela interrompe a síntese de proteínas, contribui para a dermatonecrose que ocorre em queimaduras de feridas, danos corneanos nas infecções oculares e danos teciduais nas infecções pulmonares crônicas; Piocianina, pigmento azul, catalisa a produção de superóxido e peróxido de hidrogênio, formas tóxicas de oxigênio, estimula a liberação de interleucina‑8 (IL‑8), que conduz a aumento na atração de neutrófilos; LasA (serina protease) e LasB (zinco metaloprotease), atuam em sinergia para degradar elastina, resultando em danos aos tecidos que contém elastina e danos ao parênquima pulmonar e lesões hemorrágicas, essas enzimas podem também degradar componentes do complemento e inibir a quimiotaxia e a função dos neutrófilos, acarretando maior disseminação e dano tecidual em infecções agudas; Protease alcalina contribui para a destruição dos tecidos e disseminação de P. aeruginosa, ela também interfere na resposta imune do hospedeiro;  Fosfolipase C é uma hemolisina termolábil, que rompe os lipídios e a lecitina, facilitando a destruição dos tecidos; Exoenzimas S e T faz com que ocorre dano celular epitelial, facilitando propagação bacteriana, invasão do tecido e necrose.


3) Diagnóstico laboratorial e Cultura

Diagnóstico 

Através da microscopia, a observação de bacilos gram‑negativos finos dispostos isoladamente e em pares é sugestiva de Pseudomonas, mas não patognomônica.

Cultura

Pseudomonas são facilmente cultivadas em meios comuns de isolamento, como ágar‑sangue e ágar MacConkey. Apesar de possuírem necessidades nutricionais simples, sem a disponibilidade de nitrato exigem incubação aeróbica. Para seu efetivo crescimento em caldo é necessária uma interface ar-caldo com concentração de oxigênio elevada.

Identificação

A morfologia colonial e os resultados de alguns testes bioquímicos rápidos são suficientes para a identificação preliminar desses isolados. P. aeruginosa cresce rapidamente e tem colônias planas com uma borda espalhada, β‑hemólise, pigmentação verde causada pela produção dos pigmentos azul (piocianina) e verde‑amarelo (pioverdina), e um odor doce semelhante à uva. 

                             Fonte: Murray, Patrick R. Microbiologia Médica. 7° Edição.



4) Patogênese, Patologia e Tratamento 


Patogenia


A Pseudomonas aeruginosa pode causar infecções graves em pacientes com o sistema imunológico comprometido. Nesses casos, essas bactérias costumam ser invasivas e citotóxicas, frequentemente resultando em dano tecidual, disseminação sistêmica, septicemia e morte. A aderência e colonização das células epiteliais do hospedeiro são promovidas por fímbrias ou Pili que se estendem a partir da superfície celular da bactéria. 

Para invasividade contribuem as enzimas e toxinas locais, dentre estas, podem ser citadas as elastases, protease alcalina e fosfolipase C. A produção de exotoxina A por P. aeruginosa é responsável pela inibição da síntese protéica em células eucarióticas e apresenta potentes efeitos locais e sistêmicos, incluindo necrose de tecidos moles e choque séptico.


Patogênese


Pseudomonas aeruginosa é conhecida por causar infecções agudas caracterizadas pela produção de toxinas e infecções crônicas pela produção de espessa camada de biofilme. Sua patogênese está diretamente relacionada à condição do hospedeiro, afetando principalmente pacientes queimados, com fibrose cística e internados em UTI cujo sistema imunológico está debilitado. Infecções causadas por P. aeruginosa são difíceis de tratar uma vez que estes microrganismos possuem altos níveis de resistência a vários antimicrobianos, e expressam diversos fatores de virulência que contribuem para o estabelecimento de infecções persistentes.


Tratamento

  • Polimixinas: Em muitas ocasiões, as polimixinas constituem as únicas opções terapêuticas. Dois fármacos dessa classe estão disponíveis no mercado atualmente: polimixina B e colistina ou polimixina E. Enquanto polimixina B é administrada já em sua forma ativa, a colistina é uma pró-droga, a qual é convertida em seu metabólito ativo no sangue. Devido às suas características de farmacocinética e farmacodinâmica, quando as duas opções estão disponíveis, colistina é preferível em infecções do trato urinário, enquanto polimixina B parece ser a melhor opção em infecções de outros sítios.

  • Carbapenêmicos e outros beta-lactâmicos: Como os outros beta-lactâmicos, os carbapenêmicos são antibióticos tempo-dependentes, o parâmetro que melhor prediz sua eficácia é a porcentagem do intervalo de dosagem em que a porção livre de antibiótico. 

  • Aminoglicosídeos: Diferente dos beta-lactâmicos, os aminoglicosídeos são concentração-dependentes, o melhor parâmetro para predizer sua eficácia é a concentração de pico alcançada com a dose administrada. 

  • Fosfomicina: Por apresentar uma boa ação antipseudomonas in vivo, diversos estudos vêm investigando o uso de fosfomicina, em combinação com outras classes de antibióticos, no tratamento de infecções por P. aeruginosa multirresistente. Já foram avaliadas combinações com aminoglicosídeos, colistina e beta-lactâmicos, como carbapenêmicos, com alguns resultados favoráveis, mas a melhor posologia e melhores combinações ainda não foram definidas. 


5)  Prevenção e Educação em saúde 


As tentativas para eliminar Pseudomonas do ambiente hospitalar são praticamente inúteis, dada a onipresença do organismo na água de abastecimento. Práticas eficazes de controle de infecção devem concentrar‐se na prevenção da contaminação dos equipamentos estéreis, tais como equipamentos de ventilação mecânica e máquinas de diálise, e na contaminação cruzada de pacientes pela equipe médica. O uso inadequado de antibióticos de amplo espectro também deve ser evitado, porque tal utilização pode suprimir a microbiota normal e permitir o crescimento excessivo de cepas resistentes de Pseudomonas.


https://youtu.be/9nUkg9emdEs

Saiba mais sobre Pseudomonas aeruginosa assistindo ao vídeo!


6) Caso clínico 


M.H.I., mulher de 62 anos, deu entrada novamente no Tarcísio Maia após 10 dias que havia deixado a UTI devido a um processo cirúrgico. Paciente relata que, há uma semana, vem apresentando tosse seca. Nos últimos dois dias, a paciente teve uma piora, passando a apresentar febre e expectoração de muco. Foi feita uma tomografia do tórax, que mostrou infecção nos pulmões, sugestiva de pneumonia. Foi feita a cultura para bactérias, que revelou crescimento significativo de Pseudomonas aeruginosa. 


7) Questões de Estudo 


  1. Cite os quatro componentes da superfície da Pseudomonas aeruginosa que facilitam sua adesão a células hospedeiras.


  1. Quais os principais mecanismos da Pseudomonas aeruginosa que naturalmente lhe conferem resistência a muitos antibióticos.


  1. Por que a patogênese da P. aeruginosa está diretamente relacionada à condição do hospedeiro?



REFERÊNCIAS


Murray, Patrick R. Microbiologia Médica. 7° Edição.

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