1) Morfologia e Estrutura
A Clostridium tetani é um bacilo grande (0,5 a 2 × 2 a 18 μm), formador de esporos terminais arredondados, semelhantes a uma raquete e não possuem cápsula. Durante seu crescimento, os bacilos possuem flagelos abundantes com movimentos lentos, quando já maduros eles perdem seus flagelos e desenvolvem um esporo terminal. A C. tetani é difícil de cultivar por ser extremamente sensível ao oxigênio, uma vez que é anaeróbia estrita e, quando é detectado crescimento em meio sólido, se apresenta como um filme sobre a superfície do ágar, em vez de colônias definidas. Essa bactéria é proteolítica, mas incapaz de fermentar carboidratos. Esses organismos são ubíquos em solo, água e esgotos e fazem parte da microbiota gastrointestinal residente. A notável capacidade de Clostridium causar doenças é atribuída à sua habilidade de sobreviver em condições ambientais adversas, graças à formação de esporos, ao rápido crescimento em ambiente nutricionalmente rico, sem oxigênio e à produção de inúmeras toxinas histolíticas, enterotoxinas, neurotoxinas no homem e nos animais. Ademais, essa bactéria produz duas principais toxinas: tetanospasmina e tetanolisina. Tetanospasmina é codificada em um plasmídeo, que está presente em todas as cepas toxigênicas e atua bloqueando a liberação de neurotransmissores isto é, ácido gama-aminobutírico, glicina para sinapses inibitórias, enquanto a tetanolisina tem a importância incerta na patogênese do tétano.
Figura 1: Bactéria Clostridium tetani
Fonte: https://www.sciencephoto.com/media/601677/view/clostridium-tetani.
2) Mecanismos de patogenicidade
2.1) Formação de esporos.
A esporulação, processo pelo qual alguns gêneros de bactérias formam esporos, ocorre quando estas bactérias estão em ambiente que ameaçam a sua sobrevivência, que não tem nutrientes suficientes para que cresçam e se reproduzam. As condições ambientais são adversas para o crescimento bacteriano. isso dá imensa vantagem a Clostridium tetani, uma vez que, essa pode ser “hibernar” em momentos de grande adversidade para a sustentação sua, podendo infectar outro hospedeiro posteriormente.
Figura 2: representação da formação dos esporos
Fonte: www.liceuasabin.br
2.2) Presença de toxinas
Tetanospasmina ( toxina tetânica): È codificada em um plasmídeo, que está presente em todas as cepas toxigênicas. Além disso, a toxina tetânica bloqueia a liberação de neurotransmissores inibitórios, causando rigidez muscular generalizada com espasmos intermitentes; convulsões e instabilidade autonômica.
Tetanolisina: hemolisina termoestável de importância desconhecida.
Figura 3: esquema de ação da toxina tetânica
Fonte: www.edisciplinas.usp.br
3) Cultura e Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico de tétano, é feito com base na apresentação clínica, onde ao exame físico o paciente apresenta manifestações clínicas, como espasmos e rigidez, e do histórico do paciente. A detecção microscópica de C. tetani ou o isolamento em cultura é útil, mas frequentemente malsucedido. Resultados de cultura são positivos em apenas 30% dos pacientes com tétano, porque a infecção pode ser causada por poucas células, e a bactéria, de crescimento lento, pode ser inviabilizada rapidamente quando exposta ao ar. Nem a toxina tetânica nem anticorpos contra a toxina são detectáveis nos pacientes, pois a toxina se liga rapidamente aos neurônios motores e é internalizada. Se o organismo é isolado em cultura, a produção de toxina pode ser confirmada pelo teste de neutralização com a antitoxina em camundongos.
Figura 4: Meio Ágar sangue colonizado pela cepa C2
Fonte: www.journals.plos.org
Figura 5: Meio Ágar sangue colonizado pela cepa ATCC 9441
Fonte: www.journals.plos.org
4) Patogênese e Patologia
As células vegetativas de C. tetani morrem rapidamente quando expostas ao oxigênio, entretanto a formação de esporos permite sua sobrevivência em condições adversas. C. tetani produz duas proteínas, uma hemolisina sensível ao oxigênio (tetanolisina) e uma neurotoxina termolábil codificada por plasmídeos (tetanoespasmina) que tem grande significado. O plasmídeo com o gene da tetanoespasmina não é conjugativo, assim uma cepa não tóxica de C. tetani não pode ser transformada em toxigênica.
Figura 6: Infecção por tétano
Fonte: shorturl.at/eluFV
As manifestações clínicas do tétano possuem como responsável a tetanoespasmina, toxina A-B produzida durante a fase estacionária do crescimento, sendo liberada para o meio quando a célula é lisada. Basicamente, a tetanoespasmina inativa proteínas que regulam a liberação dos neurotransmissores inibitórios, glicina e ácido gama‐aminobutírico (GABA). Essa inativação implica na desregulação da atividade excitatória sináptica nos neurônios motores, resultando em paralisia espástica (hipertonia muscular). A ligação da toxina é irreversível, portanto a recuperação depende da formação de novos axônios terminais.
Figura 7: Ação da toxina tetanoespasmina
Fonte: Adaptado de youtube.com/watch?v=gx3qJdzX5ic
Na infecção por tétano, o período de incubação varia de 2 a 50 dias (média de 5 a 10 dias). Os sintomas incluem:
Contratura da mandíbula (mais frequente)
Dificuldade para engolir
Agitação
Irritabilidade
Rigidez de pescoço, braços, ou pernas
Cefaleia
Faringite
Espasmos tônicos
Em seguida, o paciente tem dificuldade para abrir a mandíbula (trismo).
Figura 8: Espasmo tônico por tétano
Fonte: <www.wikipedia.org/wiki/Tétano>. Pintado por Charles Bell em 1809
O espasmo de músculo facial produz uma expressão característica com um sorriso fixo e sobrancelhas elevadas (riso sardônico). Em pacientes com doença mais grave, o sistema nervoso autônomo é envolvido. Os sinais e sintomas incluem arritmia cardíaca, flutuações da pressão arterial, sudorese profunda e desidratação.
Figura 9: Espasmo Facial e riso sardônico
Fonte: https://netterimages.com/acute-dystonic-reaction-labeled-jones-2e-63437.html
5) Tratamento, Prevenção e Educação em saúde
Sempre que houver acidentes com objetos de ferro contaminados, é recomendado a lavagem do local da lesão com água e sabão, e procurar imediatamente o posto de saúde mais próximo para avaliar a situação vacinal. Caso alguns dias após esse acidente o paciente apresentar alguns dos sintomas já descritos, recomenda-se a internação em leito de CTI, ou em outro lugar que forneça um suporte técnico adequado para este paciente grave. Nesses casos, a base do tratamento é a sedação do paciente e neutralização da toxina. A neutralização da toxina é feita através da administração de um soro anti-tetânico (SAT). Para o tratamento dos trismos generalizados apresentados pelo paciente, podemos lançar mão de fármacos que vão sedar o paciente. Pode-se usar o clonazepam (1 ampola de 6 em 6 horas) como o padrão-ouro, caso não houver disponibilidade do fármaco ou o paciente apresentar algum outro motivo que impeça a sua utilização, podem ser usados também a clorpromazina (1 ampola de 6 em 6 horas ou de 4 em 4 horas) e o cloridrato de pancurônio (1 ampola de 4 em 4 horas) e metronidazol é alternativa segura para o tratamento de tétano, de baixo custo, ótima biodisponibilidade, boa absorção gástrica e retal. A prevenção pela vacinação consiste em três doses de toxoide tetânico, seguidas por doses de reforço a cada 10 anos.
Figura 10: Cartaz informativo sobre sinais e sintomas de tétano
Fonte: Autoral.
Vídeo 1: Clostridium tetani
Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=HKskJ4JMg40&ab_channel=Osmosis
6) Caso clínico
Paciente, sexo masculino, 62 anos deu entrada no pronto atendimento do Hospital Wilson Rosado, trazido pela filha com queixa de “contração no corpo há 2 dias”. Acompanhante relata que há 10 dias o paciente estava participando de uma festa popular, quando pisou em um prego enferrujado. Após 3 dias deste episódio, apresentou febre (não aferida), irritabilidade e prostração, evoluindo com melhora da febre e que há dois dias vem apresentando disfagia, espasmos musculares temporários bastante dolorosos, associado a rigidez muscular e alterações de marcha. Nega convulsão, cefaléia, lipotímia e síncope.
Questões de Estudo
1- Qual a Morfologia e Estrutura da bactéria que pode ter causado os sintomas desse paciente?
2- Quais os Mecanismos de patogenicidade e o Diagnóstico laboratorial?
3- Qual o meio de cultura e a coloração necessária para essa bactéria?
4- Qual a Patogênese e a Patologia relacionado a esse caso clínico?
5- Quais as formas de Prevenção e Tratamento para este paciente?
REFERÊNCIAS
MURRAY, P.; ROSENTHAL, K. S.; PFFALER, M. A. Microbiologia Médica, ELSEVIER, 7a edição. 2010.
TAVARES, Walter. O Clostridium tetani e o tétano. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. , Uberaba, v. 7, n. 1, pág. 57-68, fevereiro de 1973. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86821973000100007&lng=en&nrm=iso>. acesso em 01 de outubro de 2020. https://doi.org/10.1590/S0037-86821973000100007 .
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