Mycobacterium leprae
1- Morfologia e Estrutura
M. Leprae são bactérias em forma de bastonetes e causam a Doença chamada Lepra (Doença de Hansen - Hanseníase). São bacilos fracamente Gram-positivos e fortemente acidorresistentes, possuindo um alto teor de ácido micólico e de lipídeos em sua parede celular, o que a torna cerosa, hidrofóbica e impermeável à alguns testes com coloração, como o de Gram, necessitando de métodos especiais para ser visualizada. É um microrganismo intracelular obrigatório, aeróbio obrigatório, e cresce melhor em temperaturas frias (27ºC-33ºC), sendo lenta a sua multiplicação. Além disso, não é capaz de ser cultivado em meios artificiais.
Fonte: Macieira S.
2- Mecanismos de Patogenicidade
A Mycobacterium leprae não possui um fator de virulência específico, assim suas manifestações clínicas dependem da reação imune do paciente infectado com a bactéria. Diante disso, a apresentação clínica pode variar entre a forma tuberculóide e a forma lepromatosa.
Forma tuberculóide: Também é chamada de doença de Hansen paucibacilar, apresenta uma forte reação imune celular, com muitos linfócitos e granulomas presentes nos tecidos e poucas bactérias, relativamente.
Forma lepromatosa: Também conhecida como doença de Hansen multibacilar e os pacientes possuem uma forte resposta imune, porém existe um defeito específico na resposta celular aos antígenos de M. leprae, sendo observada grande quantidade de bactérias nos macrófagos da derme e nas células de Schwann dos nervos periféricos.
3- Cultura e/ou diagnóstico laboratorial
Mycobacterium leprae não é um microrganismo possível de ser cultivado in vitro (nem em cultura de células e nem em meios bacteriológicos artificiais. Em virtude disso, a detecção desta bactéria é mais dificultada e, consequentemente, torna difícil o seu diagnóstico também.
Ademais, ainda existe a possibilidade de ser um microrganismo cultivado em patas de camundongos ou em tatus. Pode ser realizada a inoculação dessa bactéria, esses animais vão proporcionar condições adequadas para o crescimento desse microrganismo (porque terão uma temperatura corporal em torno de 30ºC, que é ideal para o crescimento dessa bactéria). Esse crescimento é considerado lento, visto que demora cerca de 12 a 14 dias e isso é um fator que vai tornar o tratamento contra esse microrganismo muito longo e também é um fator relacionado à reprodução desse microrganismo, a qual é lenta.
A M. leprae cresce, preferencialmente, na pele e em nervos superficiais.
Não existe um teste padrão ouro para diagnosticar a presença desse microrganismo causando a patologia; desse modo, necessita-se de uma diversidade de tipos de diagnóstico para se chegar à conclusão, dentre estes está o diagnóstico laboratorial. O diagnóstico laboratorial pode ser considerado um exame complementar, para auxiliar o profissional ao diagnóstico efetivo, e é feito por meio do exame baciloscópico, o qual consiste em um esfregaço na região interior da pele (conhecido como “baciloscopia de pele”). Esse exame é importante para auxiliar na classificação da hanseníase em Paucibacilar (PB), que consiste em casos de até 5 lesões cutâneas, ou em Multibacilar (MB), que consiste em casos de mais de 5 lesões cutâneas. Desse modo, se o resultado desse exame for positivo, indica que é um caso de MB, independente da quantidade de lesões. Por conseguinte, ressalta-se que, caso o resultado seja negativo, não exclui o diagnóstico de Hanseníase, pois pode ser, por exemplo, um caso de PB.
4- Patogênese, Patologia e Tratamento:
A Mycobacterium leprae causa a doença conhecida como Lepra ou hanseníase. Essa bactéria se multiplica no seu hospedeiro muito lentamente, e por isso, tem um período de incubação em média 2 a 5 anos. Seus sintomas serão desenvolvidos após 20 anos de infecção.
As manifestações clínicas dependem da reação imune do paciente. Em poucos casos pode evoluir para uma cura espontânea ou em outros, pode desenvolver aspectos clínicos da doença dentro do espectro. Os pacientes imunocompetentes as bactérias produzem citocinas que induzem a ativação de macrófagos, para fagocitar e eliminar esses bacilos. Essa bactéria ataca preferencialmente pele, mucosas e nervos periféricos.
O contato inicial com o M. leprae ocorre principalmente pelas vias aéreas superiores. Em uma minoria de indivíduos infectados ocorre propagação do bacilo para nervos periféricos e pele onde é fagocitado por células de Schwann e macrófagos.
Como dito anteriormente, a apresentação clínica pode ser classificada pela resposta celular e pelos achados clínicos:
• Forma Tuberculoide:
Apresenta lesões na pele em forma de placas pouco hipopigmentadas, não pruriginosas, com bordas elevadas e demarcadas e com centros lisos. Há uma perda sensorial, já que os nervos periféricos foram danificados. Além disso,essa forma da patologia apresenta baixa infectividade e o paciente níveis normais de imunoglobulina.
Fonte: Fonte: Murray - Microbiologia Médica
Fonte: http://repocursos.unasus.ufma.br/atencaobasica_20152/modulo_14/und2/4.html
Forma lepromatosa:
A forma mais grave da doença. Afeta grande parte da pele e em várias áreas do corpo, principalmente nos rins, nariz e testículos. Há um aparecimento de muitas máculas eritematosas, pápulas ou nódulos, que frequentemente são simétricos. Além disso, ocorre uma destruição extensa do tecido, acometendo a parte nervosa. Os pacientes perdem a sensibilidade e podem apresentar grupos musculares mais fracos. Há casos em que os pacientes apresentam ginecomastia, perda de cílios e sobrancelhas.
Fonte: Fonte: Murray - Microbiologia Médica
Fonte: Manual MSD
Há também uma outra classificação dessa doença chamada de Bordeline. Essa forma apresenta características tanto da lepra tuberculosa como da lepromatosa.
Tratamento:
Segundo a Organização Mundial da Saúde, para tratar a Lepra Tuberculoide os pacientes devem tomar via oral Rifampicina 600mg uma vez ao mês e Dapsona 100mg uma vez ao dia durante seis meses. As pessoas que apresentam apenas uma única lesão cutânea recebem apenas uma dose de Rifampicina 600mg, Ofloxacino 400mg e Minociclina 100mg. Para tratar a Lepra lepromatosa, tomam também a mesma quantidade de Rifampicina que na Lepra Tubercular, acrescido de Dapsona 100mg e clofazimina 50mg, ambos por via oral uma vez ao dia. O tratamento deve ser mantido por 12 meses.
5- Prevenção e Educação em Saúde
A.G.B.B., sexo feminino, 5 anos, natural de Mossoró. A mãe da paciente buscou ajuda na UBS do bairro, pois encontrou uma mancha avermelhada no corpo da filha. Durante a consulta e na anamnese, percebeu-se que a paciente não apresentava sensibilidade para dor na região avermelhada e, também, manifestava fraqueza na região dos pés e das mãos. A mãe relata que a criança chora muito por não conseguir mais realizar as tarefas normalmente como antes.
Questões para estudo:
1. Quais os sintomas da Hanseníase?
2. Como podemos diagnosticar a Mycobacterium leprae?
3. Quais as características morfológicas da bactéria Mycobacterium leprae?
4. Como podemos tratar a Mycobacterium leprae?
Referências:
Murray P, Rosenthal KS, Pffaler MA. Microbiologia Médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda.;2010.
MACIEIRA S. "Aspectos microbiológicos do Mycobacterium leprae." Noções de Hansenologia. Centro de Estudos “Dr. Reynaldo Quagliato”: Bauru (2000).
Sartori BGC. Determinação Molecular da Viabilidade do Mycobacterium leprae: uma comparação com outras abordagens metodológicas [dissertação] [Internet]. Botucatu: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; 2015. [acesso em 2020 out 2]. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/126493/000841573.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Paula NA. Pele humana como modelo ex vivo para manutenção do bacilo Mycobacterium leprae [dissertação] [Internet]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo; 2019. [acesso em 2020 out 2]. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17136/tde-04102019-104640/publico/NATALIAAPARECIDADEPAULA.pdf
GOULART, Isabela Maria Bernardes; PENNA, Gerson Oliveira; CUNHA, Gabriel. Imunopatologia da hanseníase: a complexidade dos mecanismos da resposta imune do hospedeiro ao Mycobacterium leprae. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba , v. 35, n. 4, p. 363-375, agosto 2002 . Disponible en <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822002000400014&lng=es&nrm=iso>. [Acesso em 07 oct. 2020].
Manual MDS Versão para o profissional da Saúde. Hanseníase. [Internet]. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/micobact%C3%A9rias/hansen%C3%ADase>.
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