quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Clostridium botulinum

 1) Morfologia e Estrutura

Fonte: Clostridium Botulinum (Botulism)


O Clostridium botulinum é o agente etiológico do botulismo, sendo comumente isolado de amostras de solo e água em todo o mundo. São bacilos Gram positivos grandes (0,6 a 1,4 × 3,0 a 20,2 μm), anaeróbios obrigatórios e formadores de esporos. Produz toxinas botulínicas, das quais são conhecidos oito tipos de toxinas: A, B, C1, C2, D, E, F e G, sendo a doença humana associada aos tipos A, B, E e F. 


Fonte: Clostridium botulinum in Powdered Formulae for Infants and Young Children




2) Mecanismos de patogenicidade


A patogenicidade de Clostridium botulinum está relacionada à formação de esporos e à produção de toxinas.

Os esporos formados por C. botulinum permitem alta resistência ao calor e a produtos químicos, e sua ingestão causa o botulismo infantil. Após a ingestão, a toxina botulínica é produzida no intestino do bebê. Uma causa comum é a ingestão de mel contaminado.

A toxina botulínica é uma neurotoxina constituída por uma cadeia leve (A) e uma cadeia pesada (B). É uma toxina termo-lábil, que pode ser destruída pelo aquecimento durante 10 minutos entre 60° e 100° C. São produzidas 6 toxinas botulínicas, nomeadas de A a G, sendo os tipos A e B os causadores mais frequentes de doenças em humanos. Essa toxina possui proteínas que a protegem durante a passagem pelo sistema digestivo. A porção terminal da cadeia pesada se liga a receptores de ácido siálico e glicoproteínas na superfície dos neurônios motores, o que promove a endocitose da toxina, que permanece na junção neuromuscular. Essa toxina inibe a liberação de acetilcolina - necessária para a excitação muscular - causando uma paralisia flácida. A recuperação exige regeneração das terminações nervosas.


Fonte: MULTANI, I. et al. Botulinum Toxin in the Management of Childrenwith Cerebral Palsy


A toxina botulínica, após ser endocitada na junção neuromuscular, atua clivando a proteína SNARE - sinaptobrevina, SNAP-25 e VAMP. Assim, a toxina botulínica interfere com a fusão vesícula-membrana, impedindo a liberação de acetilcolina.


3) Cultura e/ou Diagnóstico laboratorial 


O diagnóstico do botulismo alimentar é confirmado se a atividade da toxina é demonstrada no alimento implicado ou em soro, fezes ou líquido gástrico do paciente. Botulismo infantil é confirmado pela detecção da toxina nas fezes ou no soro da criança, ou pelo isolamento do organismo nas fezes. Botulismo de ferida é confirmado pela detecção da toxina no soro ou na ferida do paciente, ou ainda pelo crescimento em cultura inoculada com amostra da ferida. O isolamento de C. botulinum, a partir de amostras contaminadas com outros organismos, pode ser otimizado pelo aquecimento da amostra por 10 minutos a 80 °C, para matar todas as células não clostridiais. A cultura da amostra tratada por calor em meio enriquecido, em condições anaeróbias, permite a germinação dos esporos termorresistentes de C. botulinum. 


4) Patologia e Tratamento

Botulismo Alimentar

Pacientes com botulismo alimentar não apresentam febre, mas ficam enfraquecidos e com tonturas 1 a 3 dias após consumir o alimento contaminado. Apresentam visão turva, pupilas fixas e dilatadas, boca seca, constipação e dor abdominal. Também observa-se fraqueza descendente bilateral dos músculos periféricos, com paralisia flácida, e o óbito geralmente é atribuído à paralisia respiratória. 

A neurotoxina é irreversivelmente ligada e inibe liberação de neurotransmissores excitatórios por tempo prolongado, o que pode garantir, apesar de tratamento agressivo, que a doença continue a progredir. 

Fonte: Google Imagens

Botulismo Infantil

Causado por uma neurotoxina produzida in vivo por C. botulinum colonizante do trato gastrointestinal de crianças. Na ausência de competição com a microbiota intestinal, a bactéria pode se estabelecer no trato gastrointestinal de crianças. Comumente, a doença afeta indivíduos com menos de 1 ano (maioria entre 1 e 6 meses) e inicialmente os sintomas são inespecíficos (constipação, choro fraco e “atraso no crescimento”). É uma doença progressiva, na qual paralisia flácida e interrupção da respiração podem ocorrer. A mortalidade em casos documentados é muito baixa (l% a 2%).  

Botulismo de Ferida

Desenvolve-se a partir da produção de toxina em feridas contaminadas. Os sintomas da doença são idênticos aos do botulismo alimentar, mas o período de incubação geralmente é mais longo (4 dias ou mais), e os sintomas do trato gastrointestinal são menos intensos.

Tratamento

Pacientes com botulismo necessitam de medidas como suporte ventilatório, importante na redução da mortalidade, lavagem gástrica e terapia com metronidazol ou penicilina, visando eliminar o organismo do trato gastrointestinal, e administração de antitoxina botulínica trivalente contra as toxinas A, B e E para neutralizar a toxina circulante na corrente sanguínea. Além disso, é importante ressaltar que pacientes são suscetíveis a infecções múltiplas, já que a produção de anticorpos em níveis protetores não é observada após a doença.


5)  Prevenção e Educação em saúde 


Fonte: Confecção própria do grupo


      6) Caso clínico 


J.M.S, 7 meses, menino, residente de Mossoró, foi trazido pela mãe ao H.R.T.M. A criança apresentava um choro fraco e a mãe relatou que faziam 3 dias que ele estava tendo dificuldades de sucção e deglutição no momento da amamentação, como também mostrava uma respiração ofegante.  Ao exame físico notou-se que o bebê estava com uma fraqueza muscular generalizada. No exame laboratorial de fezes foram identificadas bactérias C. botulinum produtor de toxina tipo B, sendo dado o diagnóstico de botulismo infantil.


       7) Questões de Estudo


  1. Quais das sete toxinas botulínicas estão associadas a doença humana?


  1. Qual a principal diferença entre a neurotoxina tetânica e a toxina botulínica?


  1. Como a toxina botulínica age para causar a apresentação clínica de paralisia flácida do músculo?


Referências


MULTANI, I. et al. Botulinum Toxin in the Management of Childrenwith Cerebral Palsy. Pediatric Drugs, v. 21, n. 4, p. 261–281, 1 ago. 2019.


Murray, Patrick R. Microbiologia Médica. 7° Edição.

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